quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Provincianismo





É preciso dois cineastas portugueses vencerem três prémios no festival de cinema europeu (quero crer que o espanto nada tem que ver com o facto do prémio ser entregue na cidade que hoje representa, para todos os efeitos, o "poder estrangeiro") para a comunicação social subitamente acordar para a "grande qualidade" do cinema português, para uma horda de recém-chegados indefectíveis tecer loas ao cinema luso, à sua capacidade de sobrevivência em momentos tão difíceis para a nação, para ouvirmos defesas apaixonadas da cinematografia como sector exportável (veja-se até onde vai o desespero pela solução desta crise, de modo a que não se perturbe o statu quo). Se dúvidas houvesse quanto à desesperança e pequenez do ser hoje Português, dificilmente não seriam desfeitas pela insofismável necessidade que os portugueses - provincianos na Europa - têm de aprovação estrangeira, em todos os assuntos da vida pública e em tantos da vida privada. Nós não precisamos individualmente desse carimbo - precisamos dele enquanto colectivo, como de água para beber. É esse, cada vez mais, e aliado a uma nostalgia bacoca, o orgulho de ser Português. Apetece-me fazer como João César Monteiro, mas o meu nervo é demasiado temperado para esticar o dedo médio ao jornalismo larvar e à portugalidade humilde, demasiado humilde.

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