quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tecnocracia espongiforme / O mito tecnocrático

Desprovida da Técnica como mecanicismo positivista, a tecnocracia actual, corporizada em elites dirigentes grosseiramente tolas, suporta-se afinal numa crença absoluta: a de que, operando certos processos (esses sim, de natureza mecânica), o restante mundo oferecerá a realidade que, à partida, esperam. A dinâmica da relação causal é quase totalmente desconhecida, e as propostas de solução que até a menos ortoxa mas permitida moderna teoria económica propõe são no mínimo incipientes – os economistas estão ainda presos a esquemas de pensamento cartesianos.


Depois, face ao não previsto, verdadeiramente mecânico é o ajustamento argumentativo – a crença nos mercados transforma-se em revolta, o “problema português” volve-se “problema da arquitectura europeia” –, que permite abraçar aquilo que sempre se recusou. E agora assistimos à maciça captação de parte do discurso há bem pouco tempo tão caracterizador da esquerda radical, insolente e pária, por boa parte da direita portuguesa: A cínica desdiz-se e ataca as agências de rating e a incúria dos responsáveis europeus que alinham no desvario de “más arquitecturas”, a néscia é agredida no estômago, a ingénua queda-se perplexa e muda, a corajosa encolhe os ombros com a justeza da classificação e a tecnocrática lá se divide por uma das reacções acima.


É um tipo muito próprio de degenerescência, aquela de que os tecnocratas de hoje sofrem. Mas os liberais (excluindo os inconscientes de tal apodo), esses, mais avisados, não degeneram. Sabem que não é possível a tecnocracia num só país. E, ainda que estejamos certamente longe de viver sob os preceitos da pura ideologia liberal, contentam-se com as superestruturas do liberalismo tecnocrático, um muito mais viral cruzamento genético.