quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sobre a falácia

"In particular, since euro-area countries can’t print money even in an emergency, they’re subject to funding disruptions in a way that nations that kept their own currencies aren’t — and the result is what you see right now. America, which borrows in dollars, doesn’t have that problem. The other thing you need to know is that in the face of the current crisis, austerity has been a failure everywhere it has been tried: no country with significant debts has managed to slash its way back into the good graces of the financial markets. For example, Ireland is the good boy of Europe, having responded to its debt problems with savage austerity that has driven its unemployment rate to 14 percent. Yet the interest rate on Irish bonds is still above 8 percent — worse than Italy." 

Legend of the Fail, por Paul Krugman, no Herald Tribune

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ortodoxia

Uma notícia que pouco eco cá no protectorado mereceu: 70 alunos da disciplina de Economics 10, leccionada por Gregory Mankiw (um dos autores mais importantes no plano curricular da NOVA), abandonaram a aula poucos minutos após o seu início, numa acção planeada contra o que os aderentes consideram o enviesamento ideológico de uma disciplina introdutória fundamental. Atalhando, estes alegam que, de um curso para muitos obrigatório e que se pretende que constitua o primeiro passo tendo em vista o aprofundamento dos conhecimentos dentro da Ciência Económica, Mankiw transforma-o numa disciplina que transmite teoria económica fortemente marcada por preceitos ideológicos (concretamente, e com as características americanas, o conservadorismo) ocultos sob a capa da não-ideologia, assente em premissas duvidosas ou mesmo falsas e, acima de tudo, responsável pelo crescimento da desigualdade de rendimentos registada nos últimos 40 anos.

Não é especialmente entusiasmante a ideia de um esboço de levantamento estudantil no coração das maiores universidades americanas, de cujos departamentos têm saído boa parte dos líderes de uma certa ortodoxia doutrinária que definitivamente retirou à Economia o que esta inevitavelmente tem de Política. E não o é devido à sua própria constituição: um movimento minoritário de estudantes ainda nos primórdios da sua formação teórica resultaria há umas decadas atrás, quando a regurgitação que o "bom-senso" bovino da maioria impõe era muito lenta, quer em velocidade quer em alcance; e isto porque a descomunal máquina dos meios de comunicação, hoje no essencial grosseiros sistemas de propaganda, simplesmente não existia. Qualquer movimento contemporâneo, mesmo que solidamente fundado em teoria nova e correspondendo ao espírito gregário de um grupo, embate inevitavelmente contra a parede do discurso homogeneizado e próximo da mecânica simples do senso-comum, morrendo quase à nascença, ou sobrevivendo em pequenos grupúsculos. Hoje, manobras de agitação de alunos frustrados e ainda carentes de uma ideologia vária não só falham em enfrentar verdadeiramente a muralha do "bom-senso" como, por via de uma certa estultícia, arriscam tornar-se aquela brisa que, chocando contra uma formação de ar maior, apenas a alimenta e volve mais violenta.

No passado, elites dominantes - e a visão do mundo que rebocam - podiam ser substituídas por movimentos ascensórios de jovens irreverentes, apoiados em massas mais ou menos ignorantes em busca de ganhos colectivos. Hoje, a insolência da juventude integrada nas mesmas estruturas cujas fundações critica dá apenas um ar de riqueza e pluralidade a certos meios académicos fortemente (e dissimuladamente) ortodoxos. Apenas outros meios académicos, livres ainda dessa ocupação doutrinária, podem por a nu a ortodoxia científica de uma maioria.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Portugal e a União (1)




O acordo alcançado na última cimeira europeia é o primeiro passo de um processo político não-democrático de sujeição. Os modernos burocratas europeus, os idiotas úteis de alguém, continuam a conceber alterações ao funcionamento da União, à sua orgânica, no fundo, à sua essência e ao que dela emana. Fazem-no com medo permanente da consulta popular.

Todas as estruturas europeias retiraram soberania aos países e raramente o processo de integração europeia, no pós-guerra, resultou da vontade popular directamente expressa, sendo quase todos os passos dados suportados na ratificação indirecta que as eleições nacionais proporcionaram. Hoje, a integração prudente, respeitando e seguindo o que as nações europeias tidas em conjunto poderiam realmente suportar, sob o espectro da desagregação, é pouco mais que um tolo anseio. Como a integração monetária, as políticas de desincentivo à produção na periferia europeia e o ilusório efeito de riqueza proporcionado pelos fundos estruturais resultaram, 20 anos após Maastricht, no aprofundamento das diferenças na União.

Enquanto havia convergência, a Europa agregava-se. Quando os primeiros casos de divergência entre membros da União se começaram a manifestar, cabia a esses países mudar. Agora que a divergência é partilhada por dois clubes de países, não há agregação que subsista. A partir daqui, os países em declínio real seguirão tudo o que a outra parte, a excedentária, lhes impuser. É racional se se admitir que o declínio é temporário. Mas algum pragmatismo e (boa) teoria económica, revelando que o retrocesso passageiro poderá durar décadas, torna irracional a aceitação destas novas políticas.

Se de facto existe ainda uma identidade a que possamos chamar nossa.