sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Keine politische Macht



Alcançado o acordo na Grécia, que garantirá a temporalmente indefinida sujeição grega, o ministro das Finanças alemão assegura ao seu homónimo Português a "preparação" germânica para um segundo "reajustamento": uma negociação que, invariavelmente, consistirá no definhamento (ou declínio, como diria Schulz) económico, no embrutecimento colectivo, na transferência maciça de riqueza, na quase inviabilidade portuguesa. Vítor Gaspar, diligente por instinto, agradece; Schäuble prossegue, movendo o eixo da curta conversa para a política interna alemã - a única, aliás, que importa neste momento das nossas vidas -, invocando os problemas de legitimação que a liderança política alemã enfrenta; de seguida Gaspar, curiosamente com um débito de palavras por minuto superior ao que pratica na língua mãe, afirma, assertivo, que Portugal tem feito progressos substanciais, e que naquele dia é necessário trabalhar.

Num minuto apenas emerge o futuro português de médio-prazo, a farsa democrática que protagonizamos, e a ambiguidade anti-identitária contemporânea, objectivadas respectivamente na aceitação de um segundo programa de empréstimo internacional, austeridade acrescida e provável começo de incumprimento organizado; na permanência tranquila de um governo que assenta o seu discurso na rejeição determinada, sufragada pelos portugueses, da renegociação do dito programa, enquanto que o seu mais relevante oficial não enjeita a possibilidade; na coexistência amena da sujeição ao poder financeiro exterior, do cantar da portugalidade, do pragmatismo de quem faz o melhor que pode, do idealismo de quem confia na possibilidade e nos méritos da transformação da sociedade portuguesa numa perfeita economia liberal (nem ordo nem ultra, simplesmente virada para os mercados) e na futura recompensa reflexa dos mercados, enfim, na ingenuidade, na esterilidade, na modorra e na debilidade.

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