segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A boa politica e a má politica

Serve o presente para expor que, numa altura em que se corta cegamente, nem toda a cegueira vem a propósito. Neste caso, a notícia de que o estado vai deixar de comparticipar três vacinas. Não é o simples facto de se cortar na despesa - tomamos todos hoje por ponto assente que o mal é necessário, à conta da repetição diária do facto. É a escolha de onde se cortar. A escolha da vacina contra o HPV é uma escolha inteligente. Primeiro, a vacina tem poucos estudos a longo prazo - o que faz com que não se saiba quanto tempo dura a protecção conferida, ou até se exige reforços de vacinação. Segundo, é uma vacina extremamente cara - não se trata aqui de saber se as mulheres a devem tomar, que devem, mas saber se é custo-eficaz, um dos requisitos para fazer parte de um plano nacional de vacinação. Terceiro, não só a vacina não abrange todas as estirpes de virus como os estudos epidemiológicos que levaram à construção da vacina não são portugueses - que é como quem diz que a vacina não é dirigida necessariamente contra as estirpes mais comuns em Portugal. Não se trata de não defender a vacina - que a defendo - nem de afirmar que não deve estar no PNV mas apenas de perceber que a sua exclusão seja uma medida perceptível no contexto em causa. O mesmo, até prova médica em contrário, é impossível sustentar sobre a vacinação para a Hepatite B. Ou sobre os cortes infligidos à transplantação - uma medida que, para além de medicamente aberrante, encarecerá ainda mais o serviço do estado, assim se façam os estudos sobre os custos da diálise mantida nos doentes não transplantados. Sabe qualquer pessoa que utilize uma tesoura: o acto de cortar não é em si mau, só convém não o fazer de olhos fechados. Às vezes corta-se um dedo.

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