terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mérito e Mercado

A retórica liberal, concretamente na sua ligação com a ascensão meritocrática, está como nunca disseminada por toda a parte onde se podia infiltrar; contudo, não há paradigma meritocrático que não seja o espelho das condições estruturais, mormente de dimensão, do sistema que habita. No caso português, a retórica do "elevador social", charneira do pensamento social-democrata, depende quase directamente da implantação desse paradigma, da sua extensão e completude. E paradoxalmente, podendo-se afirmar que não há verdadeiramente cultura meritocrática em Portugal, que se possa dizer transversal e universal, ela ainda assim subsiste melhor nas posições intermédias da nossa economia, onde os mecanismos de mercado de facto funcionam e a selecção parece lhes obedecer, enquanto que, nas elites que tanto a apregoam, a rotação de nomes e cargos acontece em pequenos círculos de poder, na ausência plena de qualquer mecânica de procura e oferta. A retórica meritocrática que certas elites liberais ensinam só se aplica nos subúrbios do seu meio, e não no seu centro.

A meritocracia não tem condições de existência universal no pequeno mundo Português: a mão invisível de Smith, em círculos restritos de poucas pessoas, torna-se na extremidade de um corpo visível, de uma pessoa por todos os membros conhecida.

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